A Polícia Federal (PF) concluiu a investigação sobre o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, indiciando-o sob a suspeita de ter forçado a obtenção de um cartão amarelo durante a partida contra o Santos, válida pelo Campeonato Brasileiro de 2023. A PF acredita que a ação do jogador teria como objetivo beneficiar apostadores. Além de Bruno Henrique, outras nove pessoas foram indiciadas no inquérito, incluindo três familiares do atleta, que optou por não se pronunciar sobre o caso.
Os investigadores da Polícia Federal reuniram no inquérito conversas de WhatsApp entre os apostadores, nas quais demonstravam ansiedade e reclamação pela demora na aplicação do cartão amarelo ao atacante. A punição só ocorreu nos acréscimos do segundo tempo, após os 90 minutos regulamentares da partida.
A investigação da PF detalha quatro momentos específicos do jogo em que Bruno Henrique poderia ter recebido a advertência:
- 5 minutos do 2º tempo: Discussão acalorada com o juiz Rafael Klein após uma falta marcada contra o Flamengo. Apenas Gabigol recebeu cartão amarelo na ocasião.
- 18 minutos do 2º tempo: Cometimento de uma falta no campo de ataque do Flamengo.
- 22 minutos do 2º tempo: Nova reclamação ostensiva com o árbitro após a marcação de outra falta.
- 35 minutos do 2º tempo: Derrubada de um jogador do Santos no campo de ataque do Flamengo, seguida de um chute da bola para longe, ato que gerou reclamações de apostadores.
As mensagens trocadas entre os apostadores, incluindo o irmão de Bruno Henrique, Wander Nunes Pinto Júnior, e seu amigo Claudinei Vítor Mosquete Bassan, evidenciam a frustração com a demora na aplicação da punição. Em uma das mensagens, Claudinei classificou o juiz como "desgraçado", enquanto Wander expressou impaciência com a situação.
Curiosamente, durante a partida, Bruno Henrique assumiu a capitania do Flamengo após a expulsão de Gérson, o que, segundo a PF, pode ter facilitado uma maior interação com o árbitro e, possivelmente, evitado a aplicação do cartão por reclamação em momentos anteriores.
O cartão amarelo foi finalmente aplicado nos acréscimos, após uma falta de Bruno Henrique sobre o atacante santista Soteldo no campo de defesa do Flamengo. Na súmula da partida, o juiz Rafael Klein relatou a infração como "Golpear um adversário de maneira temerária na disputa da bola”. Após receber o cartão, Bruno Henrique continuou a reclamar e acabou sendo expulso pelo árbitro.
Em nota oficial, o Flamengo se manifestou sobre o indiciamento: "O Flamengo não foi comunicado oficialmente por qualquer autoridade pública acerca dos fatos que vêm sendo noticiados pela imprensa sobre o atleta Bruno Henrique. O Clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito".
A investigação da Polícia Federal incluiu o cumprimento de mandados de busca e apreensão em novembro de 2024. O indiciamento formaliza a conclusão da PF de que há elementos suficientes para considerar que os investigados cometeram crimes. O caso agora será encaminhado para análise do Ministério Público, que decidirá se apresentará denúncia à Justiça.
Paralelamente à investigação da PF, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) também apurou a conduta de Bruno Henrique, mas o caso foi arquivado em setembro de 2024, com o relatório do STJD baseando-se em considerações de "lance normal", "lucro ínfimo" e "prática corriqueira".