Prof. Dr. Wesley Espinosa Santana, historiador e sociólogo do Centro de Educação, Filosofia e Teologia (CEFT) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
Importante instrumento na difusão de notícias e na prestação de serviços nos cantos mais remotos do planeta, o Rádio tem um dia para chamar de seu: 13 de fevereiro. Aqui no Brasil, a data é comemorada em 25 de setembro.
A primeira transmissão radiofônica em nosso país aconteceu em 1922, época que ficou conhecida como a “Era do Rádio”.
O aparelho sempre foi usado como meio de informação, estratégia política, entretenimento e de transformação dos costumes e ritos praticados, inicialmente, por uma parcela da nossa sociedade. A intenção era de popularizar, mas o tempo da tecnologia não é o mesmo tempo da socialização da informação, uma vez que isso tem muito poder e, assim, o rádio -- num processo de longa duração que, passados cem anos --, ainda é um segredo guardado por poucos grupos e famílias nesse país a fora.
Entretanto, para que ocorresse o advento do rádio, temos um sujeito histórico desbravador e defensor da ciência e da tecnologia que foi o responsável, trata-se de Roquette-Pinto, professor e antropólogo, que, a partir da sua incessante busca pela comunicação e valorização das relações sociais dentro e fora das cidades, inaugurou a radiodifusão brasileira.
Edgar Roquette-Pinto era médico legista, nasceu no Rio de Janeiro em 25 de setembro de 1884 e faleceu na mesma cidade em 1954, aos 70 anos. Ele era membro da Academia Brasileira de Letras, com obras sobre a Antropologia Física e a Etnografia, como crítico do determinismo biológico e racial. Em 1923, criou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro com objetivo de torná-la um meio de comunicação para a transmissão do conhecimento e da valorização do processo educacional.
Na década de 1930, o rádio tornou-se um poderoso meio de organização social e política, dando a força necessária para que chegasse mais longe as mensagens populistas do presidente Getúlio Dornelles Vargas. O fenômeno político do populismo se engrandeceu por esse meio de comunicação, que era um mecanismo de transmissão de seus discursos em favor da defesa do trabalhismo e do desenvolvimento econômico. O que antes seria lido pelos jornais, agora, era ouvido nas fábricas, lojas, praças e casas. O alcance dos analfabetos era de extrema importância! O rádio passou a ser uma ferramenta de ação.
O advento do rádio foi ampliando as transformações e atingindo outras fatias da sociedade, já que as pessoas começavam a ter acesso aos festivais de música e às novelas que, pouco a pouco, transmitiam valores e mudanças comportamentais. Para termos um exemplo, na década de 1940, os brasileiros ouviram, em detalhes, os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial e a participação da Força Expedicionária Brasileira em terras italianas. Eram narrativas incríveis para época, traduzidas, simultaneamente, do inglês e francês.
O rádio tornou-se notícia, economia, política, entretenimento, cultura, religião. Sua invenção transformou a sociedade e, hoje, vemos o quanto ele se mantém no consuetudinário urbano e rural, de milhões e milhões de brasileiros que acordam e adormecem sob a sintonia e frequência de audiências que reverberam informações e, também, desinformações.
A “Era do Rádio” tinha inúmeros propósitos, entre eles a garantia do poder, algo percebível até hoje, quando vemos os grupos familiares controlando suas pautas. Com certeza, o rádio foi além de sua invenção, uma inovação das relações sociais, sobretudo, do poder da informação.
Roquette-Pinto foi um inovador, tanto das culturas indígenas quanto da comunicação via rádio, e tornou-se um exemplo do que convencionaram de eugenia positiva, mas estamos muito longe ainda de fazermos das nossas invenções tecnológicas algo mais amplo para a maioria. O rádio atendeu aos interesses de grupos, ampliou-se, mas continua sob o controle de conglomerados econômicos e políticos e isso faz da invenção uma arma de posição ideológica.
Então, o que teríamos que fazer para comemorarmos o Dia do Rádio como uma invenção para todos? Sugestão: temos que continuar ouvindo-o, porém sempre sob o olhar atento da crítica e leitura de mundo, necessárias para fazer dessa ferramenta um instrumento de luta de todos e não contra todos, mas de todos a favor do todo, da coletividade e verdadeira função dessa grande invenção. O rádio, desde o nosso centenário da independência, precisa ser entendido como um ato emancipatório da vida em sociedade.