Luto no Samba: Morre aos 74 Anos a Cantora Cristina Buarque
Irmã de Chico Buarque e Miúcha, artista avessa aos holofotes travava batalha contra o câncer; corpo será cremado nesta segunda-feira no Rio.
Por Kaká Amaral
Publicado em 21/04/2025 08:30
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O mundo da música brasileira se despede com tristeza da cantora Cristina Buarque, que faleceu neste domingo (20), aos 74 anos. A informação foi confirmada por seu filho, Zeca Ferreira, em uma emocionante publicação nas redes sociais. Irmã dos renomados Chico Buarque e Miúcha, Cristina lutava contra um câncer.

Em seu relato tocante, Zeca Ferreira descreveu a mãe como "uma cantora avessa aos holofotes" e refletiu sobre sua singularidade. "Uma vida inteira de amor pelo ofício e pela boa sombra. 'Bom mesmo é o coro', ela dizia, e viveria mesmo feliz a vida escondidinha no meio das vozes não fosse esse faro tão apurado, o amor por revirar as sombras da música brasileira em busca de pequenas pérolas não tocadas pelo sucesso, porque o sucesso, naqueles e nesses tempos, tem um alcance curto", escreveu o filho.

Zeca também exaltou a integridade da mãe e seu profundo conhecimento musical. "Ser humano mais íntegro que eu já conheci. Farol, chefia, braba, a dona da p*rra toda. Vai em paz, mãe", finalizou a homenagem.

O corpo de Cristina Buarque será cremado no Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária do Rio de Janeiro, na tarde desta segunda-feira (21). O velório terá início às 14h, na Capela 6, e a cerimônia de cremação está prevista para as 17h.

Nascida em 23 de dezembro de 1950, em São Paulo, Maria Cristina Buarque de Holanda era filha do renomado historiador Sérgio Buarque de Holanda, autor da obra clássica "Raízes do Brasil". Além de Chico, ela também era irmã das talentosas cantoras Miúcha e Ana de Hollanda (que também foi ministra da Cultura).

Cristina ganhou reconhecimento nacional em 1974 ao gravar a canção "Quantas Lágrimas", do compositor portelense Manaceia, em seu álbum homônimo "Cristina". Apesar do talento e da ligação com uma das famílias mais importantes da música brasileira, ela sempre preferiu uma vida discreta, longe dos holofotes da fama. Em Paquetá, onde residia, era frequentemente vista em rodas de samba e choro, desfrutando da música em sua essência.

Carinhosamente apelidada de "Chefia", Cristina era considerada uma verdadeira enciclopédia da música brasileira. Portelense de coração, ao longo de sua carreira, que também incluiu a pesquisa musical, ela fez questão de preservar e eternizar a obra de grandes nomes do samba, como Noel Rosa, Dona Ivone Lara, Candeia, Wilson Batista e Mauro Duarte, entre muitos outros. Seus discos, hoje raridades fora de catálogo, são muito procurados em sebos e lojas especializadas.

Nas redes sociais, perfis ligados ao samba e inúmeros fãs lamentaram a perda de Cristina Buarque. O Bip Bip, tradicional bar de Copacabana, um dos locais preferidos da artista, expressou seu pesar e celebrou o legado da cantora.

"Sacana na medida certa, nao vivia sem um bom papo de botequim. Bebedora de Brahma, moradora de Paqueta, amante dos seus gatos e da familia linda que criou (praticamente dentro do Bip, inclusive). Podemos passar a vida falando dela, da sua importância pro samba, pro nosso bar, pras nossas vidas, e vamos fazer isso sempre. Lembrar com carinho da pessoa que fez tudo começar musicalmente pra gente e pra toda uma geração que - literalmente - bebeu na sua fonte", escreveu o bar em suas redes sociais, ecoando o sentimento de muitos que admiravam a arte e a personalidade única de Cristina Buarque.

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